Em entrevista nesta semana, o governador Mauro Mendes (União) defendeu a colocação de câmeras em juízes e promotores, caso o mesmo seja imposto aos policiais de Mato Grosso. Se opondo a esta proposta, assim como já fez no passado, o gestor afirmou que apenas 1% ou 2% dos policiais são corruptos.
Mauro foi questionado se está tranquilo em deixar o governo do Estado em 2026 e se confia que as conquistas que teve em sua gestão não serão desfeitas por um sucessor possivelmente corrupto. Ele disse que corrupção na classe política é algo que sabemos que existe e então comentou que, assim como defendem a instalação de câmeras em policiais, o mesmo deveria ocorrer com outros servidores.
“Existe uma parte dos políticos que quer meter a mão, que quer roubar, que quer enriquecer, isso sempre tem. Quando a gente discute esse negócio das câmeras, botar câmera nas fardas de policiais, eu concordo, só que nós vamos botar câmera... porque 1% ou 2% dos policiais comete alguma coisa errada, vamos colocar câmera em todo mundo para vigiar todo mundo. Então tá bom, vamos colocar câmera em todos os políticos, em todos os governadores, em todos os prefeitos, em todos os deputados estaduais”, argumentou.
Mauro continuou sua crítica à instalação de câmeras nas fardas, citando os casos de corrupção no Poder Judiciário, como o recente esquema de venda de sentenças que teria envolvimento de membros do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
“Ei, mas tem juiz que também vende sentença, que foi flagrado vendendo sentença, desembargador vendendo sentença, então vamos botar câmera em todos os juízes, desembargadores. Ei, tem gente do Ministério Público também, então vamos colocar câmera em todo mundo do Ministério Público. Então existem algumas discussões às vezes, que elas são muito atravessadas”, disse.
O governador afirmou que está “muito tranquilo com relação ao que possa acontecer no futuro, em 2026”, pois sabe que, pelo menos ele, tem feito sua parte.
Nota TJMT
Em relação à declaração do governador de Mato Grosso nesta quarta-feira (15), durante um programa de jornal local, o Presidente do Poder Judiciário de Mato Grosso, desembargador José Zuquim Nogueira, recebeu com espanto as afirmações do chefe de Estado e se manifestou nos seguintes termo
“A partir de uma falsa simetria e de forma irresponsável, o governador atacou gratuitamente as instituições do Sistema de Justiça, o que é incompatível com a posição que ocupa.
O agente político, seja qual for a esfera de sua atuação, deve sempre se pronunciar com esmero e equilíbrio, em oposição ao lamentável episódio protagonizado pelo governador.
Quanto ao uso de câmeras pelos policiais militares, é necessário realizar um estudo prévio para avaliar se a medida alcançará os fins desejados e quais serão os seus impactos.
Sobre a sugestão de extensão dessa medida a juízes e desembargadores, destaco que o Poder Judiciário zela pela observância do devido processo legal, garantindo amplo direito de defesa antes de concluir pela existência de qualquer desvio de conduta.
Não se pode admitir que o Chefe do Poder Executivo, em uma entrevista pública, coloque em dúvida a honra e a honestidade de todos os membros do Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso, como ocorreu.
Por fim, reitero meu total repúdio à lamentável declaração, que desrespeitou todo o Sistema de Justiça e, especialmente, a magistratura mato-grossense.”
Nota AMAM
A Associação Mato-Grossense de Magistrados (AMAM) manifesta-se em relação às declarações feitas pelo Governador do Estado de Mato Grosso, Mauro Mendes, que, durante entrevista recente, atacou de maneira generalizada a ética e a integridade do Poder Judiciário, dos desembargadores e juízes, insinuando comportamentos incompatíveis com a honra das funções judiciais.
Tais afirmações são inaceitáveis e representam um grave desrespeito ao Poder Judiciário e aos agentes que diariamente trabalham para garantir a aplicação justa das leis e a manutenção do Estado de Direito. Comparar a atuação dos policiais com a de juízes e desembargadores ao mencionar casos de venda de sentença, a declaração foi não apenas infundada, como também lamentavelmente ofensiva a toda a classe jurídica e distorceu o propósito da justiça. Além de ofensivas, essas declarações minam a confiança da sociedade nas instituições democráticas e contribuem para o enfraquecimento da harmonia entre os poderes da República, essencial para o equilíbrio institucional.
A ética é um pilar fundamental para qualquer autoridade pública, e ataques generalizados não contribuem para a construção de um diálogo respeitoso e produtivo entre as instituições. A AMAM reforça que todos os poderes devem atuar em conformidade com os preceitos constitucionais, mantendo um relacionamento pautado pela urbanidade e pelo respeito mútuo.
Reiteramos nossa confiança no Poder Judiciário e nos magistrados que atuam com dedicação e imparcialidade para garantir os direitos de cada cidadão mato-grossense. Dito isso, a Associação informa que tomará as providências judiciais cabíveis a fim de não tolerar tentativas de deslegitimar as instituições que são pilares da nossa democracia.